Não extube seu paciente antes disso!

Você já ouviu falar no Cuff Leak Test? Não? Então, deixe de viver perigosamente e venha entender porque isso é fundamental na avaliação sobre a possibilidade de extubação de um paciente.

Durante o processo de ventilação mecânica, para manter o sistema vedado e, portanto, pressurizando, existe o cuff. Ele nada mais é que um balonete que fica no final do tubo endotraqueal (TOT) ou cânula de traqueostomia (TQT). Esse balonete tem uma comunicação com o meio externo pelo balonete-piloto (esse azulzinho) para que a quantidade de ar que está dentro dele possa ser medida e mantida.

Em algumas circunstâncias o paciente pode desenvolver edema na região ao redor do cuff e, ao desinsuflá-lo, a região fecha, impedindo a passagem de ar pela lateral.

Se isso acontecer depois que você retirar o TOT, o paciente terá uma redução drástica da ventilação e pode necessitar de uma intubação de emergência, que certamente será bem difícil.
Mas isso pode – e deve – ser evitado. Primeiro de tudo, manter uma pressão adequada do cuff é fundamental. Isso quer dizer, pressão suficiente para não deixar o ar escapar, mas não tão grande a ponto de lesar a traqueia.

Como fazer isso? Existe um aparelhinho, o cuffômetro, que mensura a pressão no balonete. Basta conectá-lo ao balone-piloto e ajustar a pressão entre 20-30 cmH2O.

Iniciado o processo de desmame, antes de realizar a extubação, deve ser realizado o Cuff Leak Test, ou teste de vazamento do cuff. Ele tem duas avaliações: qualitativa e quantitativa. Na avaliação qualitativa, você vai escutar o vazamento de ar e, na quantitativa, vai verificar a diferença entre o volume inspirado e expirado pelo paciente no ventilador mecânico.

O teste em si é bem fácil, indolor e rápido. Segue o passo a passo:

  • Posicionar o paciente com a cabeceira elevada
  • Aspirar o TOT e cavidades nasal e oral
  • Anotar o Volume Corrente inspiratório por 3 ciclos
  • Anotar o Volume Corrente Expiratório por 3 ciclos
  • Desinsuflar o cuff
  • Anotar o Volume Corrente inspiratório por 3 ciclos
  • Anotar o Volume Corrente Expiratório por 3 ciclos
  • Verificar se tem ruído de vazamento de ar
  • Insuflar o cuff

Se a diferença de valores entre os volumes corrente inspirado e expirado for maior do que 10% (alguns artigos falam em 15,5%) e houver ruído de vazamento de ar, dizemos que o Cuff Leak Test é positivo, ou seja, está “vazando” ar. Dessa forma, há baixo risco de edema laríngeo.

Quando não houver vazamento, há a necessidade de reavaliação com provável intervenção farmacológica para controlar o edema. Nesse caso, o teste pode ser repetido 6 horas depois.

Fácil, né?!
Então fique atento para não dar bobeira. Afinal, a falha de extubação aumenta em até 50% o risco de mortalidade.

Dá uma olhada nesses artigos para saber mais um pouquinho!

PAULO, Liliana Borges et al. Positive cuff leak test in a patient with post-extubation stridor after total thyroidectomy. How to deal with it?. Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, v. 27, n. 4, p. 108-111, 2018.

FISHER, M. McD; RAPER, R. F. The ‘cuff‐leak’test for extubation. Anaesthesia, v. 47, n. 1, p. 10-12, 1992.

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